sábado, 5 de abril de 2014

DIÁRIO DE MONTAGEM#1 por Candy Santi


Processo de Montagem de "Stela"

Começamos o processo de construção desta peça com encontros onde fizemos diversas leituras e debates. Entre os textos lidos estão os autores: Antonin Artaud, Antonio Guedes, Josette Féral, Hans-ThiesLehmann entre outros.

1° DIA DE ENSAIO: Iniciamos o processo de ensaio com leituras sobre encenação. Logo após, fomos experimentando na pratica alguns exercícios propostos pelo Diego. No primeiro ensaio, ele propôs de trabalhar diferentes energias, de potência e leveza, trabalhando essas potencias do corpo para a voz, para o texto. Inicialmente com o trabalho em cima da potência, eu deveria me deslocar pela sala com uma dificuldade, como se no ar existisse algo que me impedisse de me movimentar e de falar. Diego vendou meus olhos. Para mim aquilo me trouxe o medo, medo de me bater em alguma coisa da sala, ou nas paredes, mas principalmente o medo do escuro, do vazio, da morte. A dificuldade de falar já me trazia uma não comunicação com o mundo exterior e ao mesmo tempo me conectava mais profundamente com os meus pensamentos, com aquilo que queria dizer e me era negado. Depois vendaram minha boca, já não tinha mais um sentido, dois sentidos me foi negado, o da visão e da fala. Restou-me a audição, e Diego havia colocado uma música que era uma espécie de lamento de choro. Como não conseguia falar, nem enxergar, me restou ouvir e essa música me levou justamente para onde ela propunha o choro. Comecei a chorar descompassadamente, meu corpo foi ao chão e senti uma mistura de cansaço com tristeza. Passou pela minha cabeça muitos pensamentos, de como era horrível ser podado, ser excluído, impedido de manifestar suas emoções, suas vontades, suas opiniões. Vi-me num lugar escuro, aonde ninguém iria me ouvir, não adiantava o que fizesse tudo era inútil. Depois disso, Diego pediu para que eu trabalhasse com a leveza, me deu duas fitas de tecido para segurar e desenhar pelo espaço com elas. Senti-me como uma criança, feliz por poder soltar todo corpo, por poder dizer as palavras da forma que eu queria. Mais tarde Diego pediu para que eu me virasse de costas para ele e ele diria algumas palavras eu teria que me virar e formar corporalmente uma imagem, criando assim uma sequencia de imagens que depois se tornou uma partitura. 

2° DIA DE ENSAIO: Eu estava cansada, ainda um pouco gripada, então assistimos uns vídeos sobre Stela. E depois partimos para o trabalho, aquecendo e relembrando a partitura criada no ensaio anterior. Buscando transições de uma imagem a outra, criando novas imagens. Tudo inicialmente exagerado, mas depois buscando alternar, detalhes, de voz e de corpo. 

3° DIA DE ENSAIO: Fizemos um breve aquecimento com rolos e apoios, depois nós iniciamos relembrando o que foi criado no ensaio anterior, agora buscando mais sutilezas, mais formas diferentes de dar o texto. Percebi como eu tenho a voz cantada, principalmente quando chega ao final de uma frase. Algumas ações que estavam exageradas foram diminuídas para potencializar impulsos, outras foram retiradas e criamos mais algumas.